Balvanera e Anvil FX _ Uma breve narrativa sobre o apocalipse
Atualizado: 28 de mai.
Foi no último sábado, 13 de maio de 2023, que um evento catártico ocorreu no antigo casarão de São Paulo, hoje conhecido apenas como Madame, em outrora Madame Satã. Anvil Fx e Balvanera foram as atrações da 9ª edição do “Post Punk Brasil”.
É realmente difícil descrever as sensações pulsantes, a liberação descontrolada de dopamina ao assistir atentamente ao show do Anvil FX. Ao passar por algumas transformações ao longo dos anos, hoje a banda é composta por cinco integrantes, no entanto, para a apresentação no Madame, e algumas recentemente anteriores, o sexto elemento foi inserido para aumentar ainda mais imersão em águas profundas e imprevisíveis, Silvia Tape assumiu baixo e guitarra durante o show, deixando tudo muito mais interessante do que já podia ser.
Apesar do Anvil FX por vezes utilizar o rótulo “minimal synth” é complicado inseri-lo a um estilo específico. O experimentalismo grita de forma distinta em cada música apresentada. Curiosamente era possível ver (e ouvir) um pouco de muitas influências maravilhosas abrilhantarem aquela apresentação que ia muito além de um show, era como presenciar uma mistura de Maralia! com Xmal, X-Ray Spex, Linea Aspera, Figure Study e Mercenárias em uma só música, imagine em um repertório inteiro ao longo de tal espetáculo catártico, algo extremamente difícil de mensurar, mas facilmente adorável, alucinante e cheio de beleza. Esse tal experimentalismo eletrônico, repleto de sintetizadores, mesclado ao som do saxofone, conduzido pela encantadora e cativante Livia Cianciulli era algo de um encanto arrepiante.
Eu estava ali para vê-los, de fato, na mera expectativa de presenciar apenas mais um bom show, mas terminei percebendo que o poder da banda sobre o palco vai muito além daquilo que se pode esperar.
Pouco após o término do explosivo Anvil FX, foi a vez do duo argentino Balvanera subir ao palco. Foi um show razoavelmente longo e prazeroso, começando um pouco rígido, algo próximo a uma insegurança que logo se perdeu na segunda música. Agustina Vizcarra não demorou para perceber que já tinha o público para si, abandonou o pedestal do microfone de lado e entregou-se, transitando por todos os cantos do palco. Uma voz potente e graciosa, com um timbre que, às vezes, lembrava-me ao de Anne Clark, emitia de suas cordas vocais com a missão de levar cada uma daquelas centenas de pessoas a um lugar diferente em suas individuais mentes. Agustina e Lucas Ledoux obtiveram sucesso, são mais uma prova de que o formato duo, que nos últimos 10 anos tem crescido exponencialmente, funciona muito bem quando de faz algo realmente relevante.
O Balvanera, vindo de Buenos Aires, apesar de novo e um pouco introspectivo — talvez propositalmente — tem uma postura acima da idade de seu projeto, que teve início em 2016. E, apesar de flertarem muito com o EBM, acabam pairando sobre as várias vertentes do eletrônico, o que torna seu trabalho e principalmente sua apresentação ao vivo muito mais interessantes e altamente recomendável.
Em suma, ainda que seja doloroso para mim, sinto-me na obrigação de dizer que essa foi uma das melhores edições do Post Punk Brasil. Um belíssimo casamento de dois shows impecáveis, poderosos e apocalípticos.
Algumas fotos dos shows, por Dimitry Uziel
(mais fotos no Instagram da Bunnyhaus)
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