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Foto do escritorPor Dimitry Uziel

O Teatro Mágico [grão do corpo]


o teatro mágico - foto de Dimitry Uziel

No último domingo (27 de abril de 2014), exatamente às 18h20min, minha esposa e eu descíamos no metrô Barra Funda. Dalí, o destino era o belo Espaço das Américas, casa de shows, em que pisamos pela última vez para a lendária apresentação do carismático Morrissey, mais conhecido como o ex-vocalista do Smiths.

Pois bem. Nessa noite, a coisa, de britânica não tinha nada. Sendo que, às 20h00, a já conhecida trupe que atende pelo nome de Teatro Mágico subiria ao palco para o show de lançamento do seu novo disco, Grão do Corpo. Álbum que vem enfrentando comentários um tanto maldosos e desnecessários. Talvez por incompreensão. No entanto, após essa data, as coisas tendem a mudar (para melhor).

Um pequeno e quase imperceptível atraso, para deixar os fãs mais ansiosos, ocorreu. Mas a hora havia chegado e o Espaço das Américas já estava pra lá de lotado. Vale citar que antes que a trupe desse o ar de sua graça, a abertura ficara por conta do ex-integrante Luiz Galldino, com o seu show O Baile de Máscaras. Apresentação rápida, porém, suas letras estavam na ponta da língua do público que esperava pelo TM.

Agora sim. O esperado e tão falado Grão do Corpo. Aquele tal “vendido”, aquele tal “comercial”, deixara trêmulo o Espaço das Américas. Era, de fato, uma nova banda; os elementos, a melodia, outra atmosfera. E isso acontece como maneira lógica para demonstrar que a metamorfose se faz presente e é necessária.

Mãos aos Desolados, O Sol e a Peneira, Partilha, músicas que haviam sido divulgadas promocionalmente e deram o que falar. Sim, elas estavam mais altas ali, sobre e sob o palco. E, lá, elas eram mais belas ainda, mais potentes, mais evidentes. E comprovavam (quase que como um empurrão) que de “real” se faz um presente sólido. A música O Sol e a Peneira já tem teaser divulgado, do novo videoclipe, previsto para 7 de maio.

Romântico e político. Um bofetão na cara. Um chute no olho. De céus a infernos. Aquilo era uma apresentação digna de aplausos e uma maneira de dizer: “a essência está aqui! Só não sente quem não quer.” Era isso que eu, ali, da área reservada para fotógrafos, podia presenciar.

Ah, sim. E, se algum dia eu disse que o Teatro não dispõe de propostas mais... viscerais, retire o que eu disse, desconsidere. Pois, agora a coisa ficou séria (rs). E eles parecem querer falar cada vez mais alto.

É claro que o espetáculo não fora regado somente por canções novas. O Anjo Mais Velho foi, obviamente, a música que levou o público aos retalhos, ainda mais com a participação do violino de Galldino, que subira ao palco para prestigiar essa celebração. Sons que já eram conhecidos d’outros palcos, mas que integram esse novo disco também tiveram seu espaço, como Perdoando o Adeus e Quando a Fé Ruge.

Partilha, o mais belo som do novo disco (numa opinião pessoal), viera como uma mão estendida àqueles que não foram agradados pelas mudanças. Por mais que essa música me lembre um pouco de Wicked Game, do Chris Isaak... Mas, tudo bem (rs).

Para completar a presença da dança e da prática performática, um terceiro elemento foi inserido nessa apresentação, formando um verdadeiro Cinturão de Órion. Ao lado das belíssimas Andréa Barbour e Kátia Tortorella, estava Manoela Rangel, tornando o peso ainda maior e melhor. A moça possui uma

face insana e serena ao mesmo tempo. Parecia ter acabado de sair dos filmes de David Lynch. E o fato de uma nova fase arrebatar a trupe, não significa que deixaram de lado as cenas aéreas das quais as belas moças executavam com maestria. Mas, diante de mudanças, novidades vieram para somar.

Falar do novo figurino seria até uma piada. Marcelo Sommer foi a melhor das escolhas. Mas há quem diga que o antigo é melhor. Ok, tudo bem. Eu prefiro o novo. Pois o novo é sempre mais instigante e causa receios. É desafiador. A maquiagem está minimalista, enxugada, detalhada e — por que não dizer? — sombria, sóbria.

O Grão do Corpo veio como uma mensagem urgente. Um grito para despertar cidades. Não quer ser mágico, quer alertar, quer deixar em evidência sua inquietação. Daí sim, possa vir a se encontrar com a magia.

E, finalizando esse rápido olhar sobre o espetáculo de 27 de abril, devo apontar para um dos melhores baixistas da atual música brasileira, integrante dessa trupe, Sergio Carvalho. O cara é um monstro nas cordas graves. Guilherme Ribeiro, sentadinho, quietinho com seu teclado, torna a atmosfera ainda mais gostosa. A bateria escandalosa e pontual de Rafael do Santos, cada ataque na caixa é um deleite. As guitarras frescas (no melhor dos sentidos) de Daniel Santiago levaram a sonoridade do grupo a um ápice impressionante, sem contar as suas dancinhas tímidas (rs), ali no canto oposto ao de Sergio. E a percussão? Arrepiantes batuques pesados e dançantes, cativantes, de Ricardo Braga. E, por fim, as composições que brincam poeticamente com a vida e seus estranhos sentidos (no “time”) de Fernando Anitelli. Tudo isso junto, numa coisa só, fez nascer esse corpo, e já nem precisamos nos perguntar: "que corpo é esse?"

O grão está entregue.

 

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